sábado, 1 de dezembro de 2012


CONHECENDO UM POUCO SOBRE ILMA PASSOS E SUA OBRA: A AVENTURA DE FORMAR PROFESSORES


Curiosidade sobre a Autora: Ilma Passos Alencastro Veiga


Possui Bacharelado e Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Goiás (1961), Licenciatura em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de Goiás (1967), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (1973), doutorado e pós-doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1988). É professora titular aposentada e pesquisadora associada sênior da Universidade de Brasília. É professora do Centro Universitário de Brasília. Tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes campos: formação de professor, didática, educação superior, docência universitária e projeto político-pedagógico.


FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS

Segundo Ilma Passos Veiga a escola não pode se limitar apenas a função de ensinar, como também a função de ocupar os tempos livres dos educandos com ações pedagógicas, se aproximando desta forma cada vez mais da realidade. Observar-se que a cada ano, mais atribuições são direcionadas as escolas por conta das mudanças no âmbito profissional, mas é preciso que se tenha cuidado para que a escola não deixe de ser um lugar de práxis pedagógica escolar e passe a ser um lugar de práxis pedagógica social.
Tal situação deixa claro que é necessário o investimento em uma boa formação profissional para os professores tornando-os cada vez mais criativos e ousados, rompendo assim com os modelos tradicionais existentes, cheia de ranços e repetições. Ilma analisa a formação de professores sob duas perspectivas uma para ser tecnólogo de ensino e outra para ser agente social.
Na perspectiva de formação para tecnólogo do ensino, é dada ênfase a chamada educação por resultados. Esta formação reduz o processo educacional a uma visão puramente economista, adaptando a formação de professores as demandas do mercado globalizado, deixando claro que o ensino é focado exclusivamente no aprendizado do aluno no que diz respeito ao saber fazer, ou seja, a prática é o que importa, chegando a ser comparada a uma atividade artesanal.
Já a formação de professores como agente social na educação é voltada para o desenvolvimento de uma educação de qualidade para todos. O ensino tem como pilar uma formação teórica de qualidade, prezando a unidade entre teoria e prática, desenvolvendo trabalhos com ação coletiva, onde o conhecimento e a aprendizagem são construídos na base da pesquisa, fazendo com que assim os profissionais adquiram uma consciência crítica.
Para existir este profissional como agente social, sendo capaz de tornar a aprendizagem realmente significativa, é necessário que se mude a forma de tratar estes profissionais, valorizando-os, dignificando o trabalho pedagógico e a carreira docente, com melhores salários, melhores condições de trabalho e mais segurança.
É preciso incutir na cabeça das pessoas que mudanças urgentes devem ser feitas na formação de professores, para que os mesmos sejam capazes de oferecer um ensino de qualidade e que seja capaz de suprir as necessidades dos educandos das camadas carentes da população.


DOCÊNCIA: FORMAÇÃO, IDENTIDADE PROFISSIONAL E INOVAÇÕES DIDÁTICAS

A autora defende o ensino aprendizagem como algo que gira em torno da docência como profissão e isso não se enquadra profissionalmente. Para a autora a profissão é uma palavra que deve ser construída socialmente, como uma realidade dinâmica, que deve vir acompanhada de ações coletivas. Uma característica marcante da docência está ligada à inovação, quando rompe a forma conservadora de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar: ao reconfigurar saberes, procurando superar as dicotomias entre conhecimento científico e senso comum, ciência e cultura, educação e trabalho, teoria e prática etc.
De acordo com a autora, devem-se formar professores para o ensino, mas para atuar em uma escola é de fundamental importância que este docente compreenda a importância do papel de ensinar. Com essa compreensão pode proporcionar uma profundidade científico-pedagógico que os capacite a enfrentar questões fundamentais da escola como instituição social, com uma pratica social que pressupõe as ideias de formação, reflexão e crítica. Para a autora os elementos que constituem uma concepção de inovação fundamentam-se, baseado em que toda inovação se articula em torno de novidades. As mudanças através da reforma deve ter racionalidade científica, aplicação técnica do conhecimento, sendo trabalhado em um processo em conjunto de fora para dentro.
Conforme a autora, a didática como inovação edificante procura reconfigurar o conhecimento com base na prática; por outro lado, e dialeticamente, pertinente à discussão crítica dos conhecimentos teóricos assimilados. O efeito desse processo formativo para a autora visa à politização do professor, incorporando a análise da intencionalidade do processo educativo e das condições de trabalho, tendo como base a concepção de inovação. Esses conceitos devem vir relacionados à sua formação que deve emergir como um produto que reflita a realidade interna de um contexto social mais amplo.
Segundo a autora é preciso acrescentar, em todo esse contexto um aspecto importante, que são os planos de ensino, que deixam transparecer uma concepção da didática pela ótica da inovação técnica, o que contribui para fortalecer uma compreensão de formação docente descontextualizada, visando o desenvolvimento de habilidades técnicas de ensino.
Para a autora as mudanças da didática para ser eficiente, estar relacionada a uma inovação que se desenvolve na prática cotidiana, em suma, a inovação edificante pressupõe uma ruptura, que acima de tudo, predisponha as pessoas, e as instituições, para a indagação e para a emancipação. Logo, com esses objetivos a se alcançar, a inovação não vai ser um mero enunciado de princípios ou de boas intenções. 


DOCÊNCIA E EDUCAÇÃO SUPERIOR

Conforme a autora para se formar professores universitários é importante que este compreenda a importância da docência, conhecendo as três principais funções a serem desempenhadas, que são: ensino, pesquisa e a administração dos diversos setores da instituição de ensino. Sem esquecer as orientações acadêmicas, como também da participação na elaboração do projeto pedagógico, e no cumprimento do plano de trabalho.  Durante todo esse processo, deve-se buscar o esmero permanente pela aprendizagem do aluno. Para o exercício da docência exigi-se uma formação profissional adequada, com a junção de fatores como ensino, pesquisa e extensão. Esses fatores devem estar sempre conectados para o bom funcionamento do processo ensino aprendizagem da instituição.
A formação de um docente para a educação superior é construída basicamente de iniciativas individuais e dentro do regime da instituição, ao surgir oferta do curso, onde estas se organizam e desenvolvem um programa de preparação dos seus docentes, seguindo as orientações do programa da Política Nacional de Graduação (PNG). Ao seguir os parâmetros de qualidade institucional, as metas para a formação de docentes universitários indicadas no PNG é voltada para a melhoria da graduação, em que este plano lista metas e parâmetros para a formação de professores universitários. Essas metas estão direcionadas para a formação como docente em um processo continuo e constante.
O papel da instituição superior para a autora esta no desempenho em um contexto novo de educação em que se vive. A PNG enfatiza que o exercício do magistério da educação superior deve ser desempenhado por mestres e doutores (Forgrad), esse documento salienta que a titulação deve ser considerada como condição necessária e jamais suficiente para um bom desempenho de uma docência de qualidade. A formação de professores deve ser uma ação continua e não deve ocorrer de forma fragmentada, sendo uma formação de processo coletivo, onde a construção docente é conjunta entre formação pessoal e profissional. Nesse sentido a autora afirma que a aprendizagem da docência na educação superior, acontece através da formação paralela e da pratica docente, como também das experiências compartilhadas em parcerias interdisciplinares ou interinstitucionais, e na organização de palestras, dentre outros.
Para VEIGA (2010, p. 49) graças ao grande empenho dos educadores é possível, construir uma educação superior com base no equilíbrio entre vocação técnica - cientifica e humanística, onde muitas decisões já foram tomadas para esse fim por diversas instituições, mas para a mesma ainda há muito a ser construído para uma formação adequada de docentes para a educação superior.


AS DIMENSÕES DO PROCESSO DIDÁTICO NA AÇÃO DOCENTE

Para a autora existem fragilidades nessas dimensões desde quando no processo didático as dimensões de ensinar e aprender tornou-se independentes, desde então existe a divisão de funções entre professor e aluno, onde ao professor cabe a função de ensinar e ao aluno tão somente a aprendizagem. Essas dimensões segundo a própria são muito importantes e devem ser analisadas em conjunto com o processo didático e as quatro dimensões que são: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Sendo essas dimensões interdependentes, elas devem ser agregadas a pratica docente, com estratégias pedagógicas de aprendizagem com o educando, mediados pelo conhecimento.
Segundo a autora, diversas praticas pedagógica não obtiveram o sucesso esperado, devido a não trabalharem as quatro dimensões de forma devida, priorizando apenas uma e deixando as outras de lado, é necessário que ocorra um trabalho conjunto entre todas as dimensões. Continuando com suas ideias, para ela ao ensinar com compromisso o docente deve estar comprometido e ter como objetivo principal o ensino, mas ensinar denota muito mais do que transmitir conhecimento, significa desenvolver as potencialidades de uma pessoa. O docente é o maior responsável pelo ensino do educando e deve orientar, coordenar e estabelecer uma afinidade pedagógica com o aprendente.
Para a autora um docente desempenha tarefas importantes ao ensinar com compromisso que é ensinar a ensinar, construindo com isso uma atuação inovadora e atraente que servirá de ponte entre docente e educando. Ainda dentro desse contexto tem-se também o Ensinar a aprender que tem como finalidade do ensino, provocar a aprendizagem. Pois, Sem aprendizagem o ensino inexiste. Assim, são interdependentes o ensinar e aprender, em diversos âmbitos. Conforme a autora, tão importante quanto os dois primeiro tem-se o ensinar a pesquisar e o ensinar a avaliar, no qual o ensinar a pesquisar tem como objetivo estimular a criatividade, o espírito investigativo e a curiosidade. Enquanto que o ensinar a avaliar exige a participação efetiva e critica tanto do docente, como do educando, no processo avaliativo.
Nesse contexto, bastante diverso, deve-se ter como proposta o aprender a ensinar, aprender a aprender, aprender a pesquisar e aprender a avaliar. Logo, para a autora o docente deve sempre pesquisar o que pretende ensinar e pesquisar o que se avalia, na busca de uma avaliação formativa adequada, o docente deve avaliar também o que ensina, o que se aprende, o que se pesquisa e para finalizar deve avaliar o que se avalia.
Assim ao analisar os componentes do processo didático, na abordagem adota pela autora, percebe-se a importância dos docentes inseridos nesse contexto, que possam rever as estratégias individuais de aprendizagem e de investigação, bem como as circunstâncias precárias do sistema, a fim dos procedimentos terem sucesso e de que os docentes e educandos possam tirar o máximo proveito nesse contexto.


METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE


Estamos em um mundo globalizado que muda a todo instante, como os costumes e a própria sociedade, com isso torna-se necessário reorganizar a prática docente, no que diz respeito à formação e a própria práxis.  O autor cita como complexo a organização acadêmica, na qual os cursos superiores estão disponibilizados, além disso, tem a própria cultura dos docentes em deixar em segundo plano a sua formação, seja pela falta de apoio das instituições ou por outros motivos. A avaliação da educação superior também é um ponto frágil que precisa ser revisto, uma vez que vai implicar na própria pedagogia universitária. Todos esses aspectos ainda são somados à ação da tecnologia sob a práxis educativa, pois com tantos avanços o pedagogo não é mais o “único” detentor do conhecimento, ele agora necessita se adequar às novas tecnologias para estar presente no mercado de trabalho. Do ponto de vista legal, a formação do pedagogo nos cursos superiores inicia sua regulamentação através da resolução n. 14, de 23 de novembro de 1977 onde especifica seus conteúdos, porém, ainda deixou muito vaga a valorização da formação didático-pedagógica. Percebe-se ao longo dos anos que este campo de formação docente não é muito valorizado, mesmo que seja discutido e entendido que a pesquisa é fundamental, a própria LDB n. 9.9394/96 em seu artigo 66, mostra a preocupação com a formação docente, já que informa que o exercício do magistério superior será através de cursos de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado ou doutorado, porém, não é algo que deixe de forma sólida e consciente esta formação.
Percebe-se que a própria legislação deixa “brechas” para questionamentos quanto à formação superior docente e sua práxis, contudo, percebe-se pelos textos da autora que é geral a preocupação da formação docente, uma vez que estes devem ser “preparados” para o exercício da docência que deverá ser adaptado às frequentes mudanças sofridas pelo indivíduo. O desafio é “construir” uma formação que possibilite formar profissionais capazes de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar carreiras nos espaços de ensinos superiores.
Quando se pondera na Metodologia do ensino superior: disciplina pedagógica aplicada entende-se por meio da autora que o ato de ensinar é uma prática problematizada uma vez que gera conflitos, tensões e contradições que serão proveitosas se houver aproveitamento dessas relações para se avaliar a prática docente, avaliando os cenários “criados” na convivência entre docentes e educando.  Segundo a autora o ensino tem como produto o aprendizado do aluno, esta prática de ensino e aprendizado deverá ter sempre como base a pesquisada para que tenha muito mais significado no processo formativo de ambos, não se ensina e aprende sozinho, o aprendizado ocorre na interação dos sujeitos.
A autora é muito feliz ao citar as pesquisas feitas por VEIGA (2007), onde a mesma mostra resultados da pesquisa “Formação pedagógica de docentes universitários” que não podem deixar de serem citas. Alguns pontos ficam intensamente presos na mente, precisa-se: apoiar-se no eixo da construção do conhecimento, fundamentar-se no diálogo de diversos conhecimentos; na constante relação entre ensino e aprendizagem, ensino e avaliação..., integrando as metodologias de ensino e de pesquisa, dentre outros. A pesquisa sinalizou pontos que necessitam ser reavaliados como a falta de clareza na metodologia ou didática do ensino superior.
Quando se fala em Desenvolvimento profissional docente, a autora não deixa de citar que possuem elementos básicos que formam a base de desenvolvimento do profissional docente, que são eles: desenvolvimento adulto; acumulação da experiência e a própria formação. Logo, percebe-se que a identidade docente é algo que não é desconsiderada e que vai sendo construída ao longo das vivências que são compartilhadas no dia a dia de cada indivíduo.  
A mudança da prática docente e na melhoria da formação desses profissionais não vai acontecer sozinha, está sendo impulsionada pela sociedade que a cada vez exige mais, porém, será necessário o apoio das instituições nesse processo, que já está sendo desencadeada pela sociedade, pelas instituições e pelo poder público. Todos necessitam apoiar mudanças que sejam positivas e que possam possibilitar um ensino superior docente de qualidade,  acompanhando as mudanças sociais. Será um processo desafiador, contudo, necessário a ser investigado, analisado e com essas medidas adotadas, possa gerar uma educação mais igual a todos que dela participe.

  
Referência
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. A Aventura de Formar Professores. 2º edição. São Paulo: Ed. PAPIRUS, 2010. 



Obras da Autora

AULA - GENESE, DIMENSÕES, PRINCÍPIOS E PRÁTICAS;
AVENTURA DE FORMAR PROFESSORES, A;
CAMINHOS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO;
CURRÍCULO E AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR;
DESMISTIFICANDO A PROFISSIONALIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO;
DIDÁTICA - O ENSINO E SUAS RELAÇÕES;
DIMENSÕES DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO, AS;
DOCÊNCIA - UMA CONSTRUÇÃO ÉTICO-PROFISSIONAL;
DOCENTES UNIVERSITÁRIOS APOSENTADOS ATIVOS OU...;
EDUCAÇÃO BÁSICA E EDUCAÇÃO SUPERIOR;
ESCOLA FUNDAMENTAL, CURRÍCULO E ENSINO;
ESCOLA, ESPAÇO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO;
FORMAÇÃO DE PROFESSORES;
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA;
LIÇÕES DE DIDÁTICA;
PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA;
PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE DIDÁTICA, A;
PROFISSÃO DOCENTE;
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA;
QUEM SABE FAZ A HORA DE CONSTRUIR;
REPENSANDO A DIDÁTICA;
TÉCNICAS DE ENSINO - NOVOS TEMPOS;
TÉCNICAS DE ENSINO: POR QUE NÃO. 


FORMAÇÃO DE PROFESSORES: BERNADETE GATTI





COMPONENTES DA EQUIPE: 
       1.       Flavia Miranda
       2.       José Santos
       3.       Jucicleide Salomão
       4.       Laurinete Cardoso
       5.       Núbia Conceição

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