quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ivani Fazenda

Biografia
Licenciou-se em Pedagogia pela USP, mestre em Filosofia da Educação pela PUC-SP. Doutora em Antropologia Cultura, também pela PUC-SP, livre docente em Didática pela UNESP. Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Educação-Currículo da PUC-SP; coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade (Gepi) da PUC-SP; presidente do Fórum Paulista de Pós-Graduação em Educação; membro da Academia Paulista de Educação.

"a leitura é o veículo por excelência por meio do qual o homem pode se expressar e conhecer a expressão do outro."
(p.58)

Alguns livros da autora:




Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa. 11. ed.
Campinas, SP: Papirus, 2003(1994). 143 p. 
Resumo:   A história de um estudo representada por uma paixão   Ivani Fazenda inicia com uma abordagem sobre a “gostosa” familiaridade que tem com o número 13, já que esta obra é a sua 13ª produção. Em Interdisciplinaridade: história, Teoria e Pesquisa, editado pela Papirus, em 2003, na sua 11ª edição, a autora busca organizar os seus escritos e estudos desenvolvidos acerca da interdisciplinaridade, desde a década de 1970, com o intuito de corroborar com a produção de saberes novos/velhos na área da educação. Para isso utiliza-se da ousadia, da pergunta e da pesquisa interdisciplinar, movimento este acompanhado pela subjetividade e pelo olhar ambíguo que cinge o ato de pesquisar, juntamente com a sua própria história de vida. Fazenda aproveita, nesse momento, a oportunidade para envolver-se/doar-se a uma outra paixão – a de escrever. Escrita ousada, apresentada na sua primeira versão, em Portugal/1993, mas que depois de editada, tem sido utilizada por muitos. O livro estrutura-se em três aspectos: o primeiro volta-se a uma evolução histórico-crítica do conceito de interdisciplinaridade; o segundo retrata o nascimento, o desenvolvimento e a consolidação de um grupo de estudos e pesquisas sobre interdisciplinaridade e o terceiro encaminha-se a uma síntese interdisciplinar das quase 30 pesquisas já realizadas – hoje esse número já passa de 100. Fazenda pesquisa a interdisciplinaridade desde a década de 1970 e esse estudo lhe permitiu perceber a não possibilidade da construção de um único conceito de inter. Entretanto, é enfática ao aduzir sobre a necessidade de cada pesquisador desvelar-se diante de sua história para compreender-se interdisciplinar, pois há a possibilidade de encontramos no ontem a fonte organizadora do hoje. Todavia, essa busca do “conhecer-se” (Sócrates) permeia uma desordem, mas que pode vir a se transformar em uma nova ordem, a do pensamento (Descartes). Esse pensar abarca o “mim”, o “eu” e o “sou” e nos encaminha ao conhecimento. Para elucidar os estudos sobre a interdisciplinaridade, a autora organiza todo esse movimento/conhecer/pensar em três décadas. Na década de 1970, basicamente, os estudos da interdisciplinaridade se direcionaram à estruturação de conceitos, já que era uma palavra difícil de ser pronunciada e compreendida. Com o seu surgimento na Europa – França e Itália – na década de 1960, incitou a construção de uma nova concepção de ciência/conhecimento/educação. A interdisciplinaridade vem aparecer em meio ao cenário dos movimentos estudantis, para reforçar o não esfacelamento dos saberes, apoiada na “totalidade” – sua categoria mobilizadora. Desse modo, Ivani referenda Gusdorf, um dos precursores desses estudos, pois este idealizava a aproximação das ciências humanas. Fidedigna às suas origens e aos seus estudos, a autora apresenta outros importantes teóricos dessa temática, dentre eles, Japiassú (1976), responsável pela primeira produção significativa desse estudo no Brasil. Na seqüência ressalta a pesquisa por ela desenvolvida em seu mestrado (1979) e a necessidade do pesquisador alimentar-se e habitar os conceitos no processo de pesquisa, para evitar o entendimento errôneo, “[...] próprio daqueles que se aventuram ao novo sem reflexão”. Nesse sentido, os estudos sobre a interdisciplinaridade no Brasil na década de 1970, tiveram repercussões acerca do “modismo” e do “avanço da reflexão”. Na década de 1980, os esforços empreendidos concentraram-se na organização de um quadro conceitual, analisado e construído, com base no vivido, pois se constatou que um quadro teórico interdisciplinar “pronto”, pouco contribuía/contribui para o transcender das práticas e das pesquisas em educação. Dessa forma, encentra pressupostos sociais e metodológicos, na tentativa de explicitar o “teórico”, o “abstrato”, o “prático” e o “real”. Nesse período, “Interdisciplinaridade e Ciências Humanas” (1983), assumiu o papel do mais célebre documento sobre essas discussões, elaborado por uma constelação de autores. Esse documento analisa os “pontos de encontro” e de “cooperação” das disciplinas Naturais e Humanas, e revela a não existência de uma única corrente filosófica capaz de abordar o conhecimento em sua totalidade. Com isso, a “dicotomia” se fez presente e premissa na investigação interdisciplinar e inseriu um olhar ambíguo e inquiridor, em relação à Ciência e ao professor/pesquisador. Aparece assim, a força do registro sobre as práticas vividas para lidar com o ambíguo processo existente entre teoria/prática. A década de 1990 teve como característica a busca pela construção de uma teoria da interdisciplinaridade, o que provocou um revisitar ao já estudado/estabelecido, e uma relação de “contradição”. Contradição, porque as práticas intuitivas têm proliferado; porém, vazias de reflexão. Todavia, Fazenda menciona o “Núcleo de Estudos e Pesquisas” por ela coordenado, na PUC/SP, hoje “Grupo de Estudos e Pesquisas da Interdisciplinaridade” – GEPI, como um dos caminhos que permite o desvelar dos seres/pesquisadores em seus mais variados aspectos, através do grupo/coletivo/parceria, ao abstrair e acrescer às práticas intuitivas, fundamentos teóricos e metodológicos que as subsidiem; ações estas, altamente reflexivas. Nota-se, novamente, a presença da ambigüidade na interdisciplinaridade, na busca de um projeto antropológico de educação. A construção interdisciplinar a partir da relação professor/aluno é o texto que a professora Ivani elaborou para o seu ingresso no concurso de livre-docência. Utiliza-se do termo “iceberg” para clarear a estruturação de sua escrita, que se processa em três momentos: elementos conceituais (teoria); elementos da realidade (prática) e a exploração de possibilidades (perspectivas). A autora conduz os seus leitores à reflexão com base nos conceitos apresentados, bem como através dos questionamentos realizados e encanta-nos com as benécies e os vislumbramentos das possibilidades. A construção da comunicação fundamentada no diálogo é um ensaio em que ela explicita a “comunicação” como uma das categorias mestras da interdisciplinaridade. Para isso o divide em “Palavra-mundo”, “Palavra-encontro”, “Palavra-ação” e “Palavra-valor”. Em palavra-mundo aborda a necessidade da linguagem – oral e escrita – para que a palavra se profetize e possa contribuir com a formação de um mundo cada vez mais humano, pois “a palavra capta, conhece, interfere e transcende a consciência do homem em sua busca do mundo”. Na palavra-encontro reflete sobre a força da palavra e da vida dos outros em nossa vida - a comunicação. Essa nos permite externar/interiorizar a consciência adquirida sobre o mundo e dele recebida, a partir do encontro e do diálogo. Palavra-ação retrata os sentidos de uma palavra em diferentes contextos, ou seja, a mudança que ela adquire quando pensamos/lemos/escrevemos. Fazenda alinha o seu texto com o potencial criador das palavras e a mutatividade que circunda os leitores quando se propõem a fazê-lo, pois nenhum leitor lê como outro; nem ele mesmo lê de igual modo numa outra tentativa. A beleza disso tudo, é que os textos, mesmo sendo velhos, tornam-se novos e formam leitores novos a cada página lida, contemplada. Em palavra-valor, revela a notoriedade desta em nossa vida e sociedade, apresentando-a como condição para ser. Ser em sua inteireza ambígua, de diferentes maneiras em momentos diversos, para dela se apropriar e humanar-se sempre. A construção de um método fundamentado na ação é um texto que foi apresentado na 17ª reunião da Anped, em Caxambu, 1994. Nessa produção, a sala de aula é apontada como o espaço onde a interdisciplinaridade habita e onde ela vivifica as relações de aprendizagem estabelecidas durante o processo de pesquisa. A sala de aula interdisciplinar é vista como um espaço evolutivo/reflexivo/histórico que engendra movimento, e apesar de surgir na coletividade, é singular para cada sujeito que dela se propõe a participar. No contexto e na atitude interdisciplinar, aparecem as perguntas que servirão de diretrizes às pesquisas, o que requer, por sua vez, uma metodologia condizente. Essa metodologia implica um olhar mais aprimorado em relação ao conhecimento, um olhar desejoso, liberto, inovador, transcendente; um olhar potencializado a partir da atitude interdisciplinar. A construção da didática a partir da prática dos professores é um texto lapidado e encantador, revelador da força da prática no processo de formação dos professores. Ele é apresentado em três momentos; o primeiro diz respeito ao papel do autoconhecimento nas práticas individuais; o segundo à natureza social das práticas e o terceiro à necessidade de uma ação conjunta, integrada e interdisciplinar. Nessas condições, é preciso que os homens/seres em transformação reconheçam a prática adquirida, historicizando-a, além de perceber a importância do “outro” nesse caminhar. Fazenda relata a experiência vivida com um grupo de alunos do curso de Pedagogia da PUC/SP que pretendia aprofundar os seus conhecimentos sobre a didática na prática da pré-escola, e que percebeu que a riqueza maior estava em sua própria ação, sem tirar aqui o mérito da teoria para a realização dessa pesquisa. Ali estava a “chave” que atribuiria sentido ao estudo e à análise perante cada fato novo encontrado, lembrado e descrito/refletido. Com isso, esse grupo de dez alunos percebeu no coletivo, a presença da singularidade de cada um, pois houve uma “mostragem”, o que permitiu a compreensão de “[...] que a natureza das práticas individuais é sempre social”. A consciência e os reais motivos dessas ações se revelaram. Posteriormente, essas reflexões foram compiladas em livro, intitulado Tá pronto, seu lobo? Didática/prática na pré-escola. A professora Ivani também menciona uma outra coletânea, por ela organizada, Encontros e desencontros da didática e da prática de ensino, em que, a partir dos textos nela contidos, revela o modo de ser de seus autores parceiros. Com isso, fica claro que a prática de cada um é “única e intransferível”, já que o nosso processo de formação acerca do ser professor também é uno. Portanto, perceber-se interdisciplinar é fundamental para quem busca a totalidade e a boniteza que cinge os atos de aprender e de ensinar. A construção de fundamentos a partir de uma prática docente interdisciplinar é um texto adaptado com base no artigo publicado na Revista Ande, em 1993. Nessa produção, a autora retira de sua tese de livre-docência – Interdisciplinaridade: um projeto em parceria, seis fundamentos para abordar a interdisciplinaridade. São eles: a atitude interdisciplinar, a memória (registrada e vivida), a parceria, o perfil de uma sala de aula, aspectos que alicerçam um projeto/pesquisa e bases de um projeto interdisciplinar. É um texto espetacular, inflado de desejo por quem habita essa temática em sua inteireza, em sua profundidade, feita com tamanha humildade e sabedoria que ouso chamar de “presente” aos leitores. A construção de uma alfabetização interdisciplinar – Ensaio foi redigido em 1984, para uma conferência em educação. Aqui Fazenda destaca que pensar a alfabetização na perspectiva da interdisciplinaridade, requer um refletir acerca das pretensões ideológicas e reais que coabitam esse processo. Além disso, assinala a importância da análise reflexiva sobre a prática de alfabetização vivida para, posteriormente, tornar-se interdisciplinar. Nesse momento, a pergunta é essencial e a parceria com os teóricos faz-se necessária, bem como o comprometimento e a responsabilidade que a profissão imprime. Nesse sentido, a formação do professor alfabetizador também carece de novos olhares; olhares que lhe permitam vislumbrar outras possibilidades e experienciar outras formas de lidar com a questão do conhecimento, pois esse carrega as amarras de uma formação tradicional, que muitas vezes o impede de envolver-se na profissão. A alfabetização interdisciplinar não se finda, pois a comunicação que envolve a aprendizagem está sempre presente, é uma constante, é benevolente para quem dela se utiliza. A construção de um projeto fundamentado na pesquisa é outro texto primoroso. Revela o caminho percorrido durante oito anos de pesquisa por Fazenda. Um projeto que esteve/está sempre vivo e que sofria/sofre inferências de todos os sujeitos que dele fizeram/fazem parte. A interdisciplinaridade impele a esse movimento, a essa comunicação entre os que a pesquisam. Uma pesquisa que precisou/precisa também ser apreendida e lapidada, abrilhantada pelos “teóricos luzes” que balizaram/balizam seus estudos. Estudos esses, sempre singulares, porém com características semelhantes para quem investiga interdisciplinarmente. A “pergunta-mãe” de cada projeto descrito por Fazenda suscita a humildade da busca, o envolvimento profundo com os teóricos e uma relação de parceria com os pares, também pesquisadores interdisciplinares. Um encontro ousado, inicialmente caótico, mas que surge como especial e com o desejo de muitos quererem experimentá-lo. O reconhecimento de uma pesquisadora, com todos os seus teóricos – sempre respeitados e revisitados, bem como todos os seus pares – colegas/professores e orientandos se processa. Eis a representação da vida no processo de formação e de pesquisa interdisciplinar. A construção de uma pesquisa de múltiplas temáticas traz o movimento de quase trinta pesquisas orientadas por Fazenda, relidas e namoradas uma a uma, na busca por encontrar nelas a essência de cada investigação, com todas as suas nuances. Esse processo exigiu uma organização múltipla (tópicos e abordagens, níveis de ensino, exercício do pesquisador em sala de aula ou como coordenador de projetos de ensino...), o que demonstra que cada pesquisador é singular e que segue um caminho que é apenas seu. Porém, não se “faz” sozinho, mas com os outros. Nessa produção, a autora fala das pesquisas como amiga, orientadora, investigadora, formadora e inquiridora, a partir dos estudos analisados de seus orientandos/as, com as metáforas que os acompanharam durante o processo e que reluzem a investigação. Desse modo, através da interdisciplinaridade, insere-se na Academia a forma não convencional a qual estava acostumada para fazer pesquisa, todavia, mantém a cientificidade que ela impõe. A construção da pesquisa a partir da identidade do pesquisador é a obra encarregada de finalizar esse estudo. Nesse momento, a autora referenda, de modo breve, os trabalhos por ela orientados – mestrado e doutorado – no período de 1989 a 1992. Com isso, deixa novamente a marca de uma pesquisadora que se forma e se renova a cada novo desafio, a cada nova pergunta que os seus orientando/as – também sempre novos – ousam lançar no mundo da Academia, na tentativa de formarem-se e compreenderem-se como seres/profissionais sempre apreendentes. Nessa obra, Ivani Catarina Arantes Fazenda “se mostra” e mostra-nos as benécies da pesquisa interdisciplinar após longos anos de investigação. Historiciza o já vivido e projeta muitas das ações que ainda estão por viver. Como pesquisador, encontrei em Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa todos esses momentos. História quando nos apresenta um apanhado sintético, porém profundamente analisado sobre as pesquisas dessa temática nas décadas de 1970, 1980 e 1990 por ela realizada, juntamente com a parceria dos teóricos e de seus pares, também autores. Teoria, quando referenda os fundamentos de uma pesquisa/prática/sala de aula/atitude interdisciplinar, deixa-nos completamente envolvidos quando notamos que toda essa teoria emergiu de uma prática vivenciada em sua totalidade, ao relatar a importância da pergunta, do grupo e do respeito à unicidade de cada pesquisador e de cada projeto – um movimento de pura humildade, parceiro. Na verdade, a pesquisa é inerente à interdisciplinaridade, utilizada para revelar possibilidades novas, a partir das velhas, mas que olhadas sob outros prismas, vivificam-se, pois os espaços e o tempo são sempre diferentes; como, díspares também somos, o que nos permite olhar o “ontem” através do “hoje”. Fazenda deixa marcado nessa produção uma paixão que, como pudemos sentir e encontrar em cada página, está muito viva em seu ser de professora/pesquisadora. Uma paixão que tem ainda muita força para “enamorar” muitos e com eles compartilhar práticas, estudos... pesquisas; uma paixão que tem o poder de se renovar a cada leitura, a cada nova escrita, com a força apoteótica de ser una, mesmo sendo lida por muitos – a escrita. Portanto, professora, escreva sempre e continue a nos brindar com a sua sensibilidade, humildade e parceria.

Escola
A sala de aula é um espaço onde acontece a interdisciplinaridade e são estabelecidas as relações de aprendizagem; Vista como espaço evolutivo/ reflexivo/histórico que engrena o movimento.
A interdisciplinaridade surge na coletividade, mas é singular para cada sujeito que participa dele.

Ensino
Processo de formação dos professores:
Papel do autoconhecimento nas práticas individuais;
Natureza social das práticas;

Necessidade de uma ação conjunta, integrada e interdisciplinar.
Perfil do professor:
Gosto pelo conhecimento;
Comprometimento com seus alunos;
Marca da solidão e da resistência;
Trabalhar muito e ter muito empenho pessoal.
Para a autora: "Competência, envolvimento, compromisso marcam o itinerário desse profissional que luta por uma educação melhor, afirmando-a diariamente." (p.49)

Aprendizagem
Possibilidade de novos olhares que permitam outras experiências em lidar com a questão do conhecimento, que ainda carrega traços de uma formação tradicional.
Importância da pesquisa interdisciplinar.
Comunicação – uma das categorias mestras da interdisciplinaridade:
- Necessidade da linguagem – oral e escrita;
- A leitura permite relações com o mundo subjetivo: Perguntar e duvidar.


Componentes da Equipe:

Ana Cláudia Bispo de Jesus

 Elaine Tourinho
 Flávia Cavalcante
 Juliana Vilela



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